Escola Brasileira: Tudo igual!
Eu tenho uma amiga com a qual eu tenho um grande desprazer de sair para comer ou de cozinhar para. Porque para ela tanto faz um sanduíche de ovo feito em pão fatiado de supermercado ou um requintado coq au vin, o deleite será igual. Ela expressará com genuína sinceridade o prazer que a comida lhe ofereceu. Tudo para ela é na mesma intensidade muito bom. “Por favor, não diz que está delicioso,” eu falo para ela. “Mas está delicioso,” ela sempre responde. “Mas tudo é delicioso para ti,” falo irritada. “E qual é o problema disso?” ela pergunta já rindo da minha irritação. O problema que eu sinto é que sem discernimento não há consciência da maestria envolvida e nem mesmo gratidão pelo esforço.
Eu lembrei desse opaco nivelamento culinário da minha amiga quando uma outra amiga perguntou-me sobre o que eu achava de uma escola X ou de uma escola Y. Ela estava querendo decidir onde matricular sua filha. Não vou aqui dar nome as escolas, porque não fará a menor diferença. E este é o problema. As escolas no Brasil tornaram-se iguais em suas ineficientes organizações, do ponto de vista da aprendizagem da criança, também em suas medíocres metodologias, em seus insuficientes números de profissionais da educação e em desastrosas experiências educativas para as crianças. Tudo igual!
Antes que alguém pense em refrescar a minha memória, eu sei que há lindas e instigantes escolas alternativas fazendo uma pedagogia voltada para as diferenças individuais de crescimento e aprendizagem. Mas, infelizmente, estas escolas são pequenos números de alternativas ao esmagador conglomerado das típicas escolas públicas e particulares brasileiras. Quando eu comecei a estudar pedagogia em 1987 as escolas alternativas já existiam e agora, quase trinta anos depois, elas ainda continuam sendo alternativas. Suas inovadoras metodologias não chegaram ainda dentro de uma prática comum. Absolutamente triste!
Cinco anos atrás, um francês que estava querendo construir uma escola particular de ensino médio no Brasil pediu para consultar comigo sobre o sistema educacional brasileiro. Depois de algumas horas explicando para ele como funcionava as escolas no Brasil, ele perguntou atônito e incrédulo: “porque que a classe média brasileira paga para ter uma escola privada que funciona e ensina exatamente do mesmo jeito que a escola pública?” Graças a estranheza do olhar deste estrangeiro, em 2012 eu escrevi um artigo intitulado “Uma Nova Estética Escolar: juntando os aspectos cognitivos e pedagógicos” (aqui está o link) no qual eu juntava as evidências de estudos que demonstraram que aspectos são mais facilitadores da aprendizagem da criança e clamava para que esses aspectos fossem considerados para se pensar a construção e funcionamento da escola brasileira.
Resumindo, as crianças no Brasil continuam indo para a escola – pública ou particular não faz a menor diferença – que coloca trinta alunos ou mais dentro de uma sala minúscula, com somente um professor, sentados em carteiras enfileiradas (ou talvez em semi-círculo, nas escolas mais “alternativas”), sem espaço para criação de ambientes múltiplos, sem instrumentos para fazer experimentos, fazendo todos as mesma tarefa com papel e lápis, no mesmo momento e, de preferência, do mesmo jeito. Enquanto aceleradamente muda a sociedade, mudam-se os perfis de nossas relações sociais e transformam-se os instrumentos que usamos para transitar no mundo contemporâneo, a escola brasileira permanece a mesma instituída pelos jesuítas no século XVI. A única mudança visível foi a desvalorização do professor em termos de formação e salário.
Sem discernimento do que faz uma escola e uma experiência de formação realmente valer a pena, não há consciência da maestria necessária e nem mesmo agradecimento pelo esforço empreendido. Tudo torna-se a mesma medíocre porcaria.